segunda-feira, 17 de março de 2008

O homem segura o jornal cuja a capa é sobre o seu time que havia sido campeão de alguma coisa. Segurava e ria de felicidade e sadismo dos outros companheiros de trabalho que torciam para o time adversário. Assim foi todo o seu dia de trabalho: gracinhas, piadinhas, deboches... Chegava a cansar os transeuntes. Aquele deveria ser o dia mais feliz da sua vida, e eu não entendia se isso era bom ou triste...
Durante um bom tempo preferi esnobá-lo. Não me culpava, era recíproco.
Era como um trato: eu o notava mas fingia que não, e ele, na sua euforia, nem me olhava. Até o momento que viu a minha combinação alvirubra (montada ao acaso); inclinou um pouco o corpo e perguntou esperançoso "você é do náutico?" ! Tive medo, confesso. Ele queria mais era que eu afirmasse(!), mas depois de ter me recostado mais na grade, respondi "não, eu não tenho time". Ele voltou ao seu posto desolado, tenho certeza. Imagine só a maravilha que seria encontrar uma alvirubrazinha indefesa um dia depois da grande derrota para o seu time! Seria ali que ele despejaria todo seu sadismo futebolístico! Se retirou. Porém não me deu nem cinco minutos de sossego... Voltou com alguma coisa na mão, talvez um grapeador ituano ou algum outro objeto de escritório soando ameaçador. Foi aí que começou o processo de intimidação. Fitava o horizonte e grampeava o ar com rapidez...
Aqueles 'clicks' me faziam ter certeza que era pena o meu sentimento pelo rubronegro. Parando para observar aquela era mesmo a única alegria dele. O trabalho naquele cursinho deveria ser insuportável. Alunos chatos, professores engraçadinhos (típicos de cursinho), coordenadoras engajadas (o que as tornava mais chatas que os alunos), secretárias nenhum pouco gostosas... Só restava meia dúzia de homens na mesma condição que ele (e usando o mesmo uniforme verde limão) e alguns taxistas batendo ponto na esquina. Os únicos com quem poderia liberar testosterona em paz...
De segunda a sábado sua vida era mais uma vidinha...
Mas no domingo...?! No domingo a vida pulsava! Saia fora do seu controle!
Era ali que ele descontava os aborrecimentos dos outros dias. Deixava o cargo de porteiro e se transformava em alguém muito maior, muito mais importante. Vestia uma camisa e se orgulhava disso, já que na vidinha a única camisa que ele vestia era ridiculamente verde limão, e isso não seria motivo de orgulho para ninguém.

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