sábado, 26 de março de 2011

Wilma, de Cida

O vermelho sempre incomodou Wilma

desde criança era afeita a frutas

verduras e andanças sozinha pelo quintal

Não gostava de carne

comidas picantes

sabores fora da rotina

Demonstração de afagos calorosos

e no máximo permitia um alisado nos cabelos

Todos a acham estranha

aquela menina pacata

quase opaca e despercebida

Até as brincadeiras

eram sussuradas no canto da parede

onde nem as bonecas falavam

Foi pondo-se moça

Sem saber nem se interessar por nada

seu universo era o timão branco

e a fita azul no pescoço

usados em nome de Maria

Um dia o sangue escorreu por suas pernas

e quase enlouqueceu

A menina invisível foi exposta

ao corpo da casa

e a mãe se apressou em costurar paninhos

e a mal explicar

o motivo da mudança

Todos mês era motivos de chacota

das irmãs

e os paninhos lavados em suplício

Por não saber conviver com o vermelho

não tinha coragem de cortar os pulsos

Um dia ousou olhar-se no espelho

e viu-se em peitos

ganhando cor e jeito de mulher

As cólicas passaram

conheceu o modess

e o desejo decenal se instalou

Entre o décimo e o vigésimo dia

Punha-se em calores por entre as pernas

E sabia-se pronta para a presa

Namorou vários homens

Aprendeu a gostar de sexo

E muito depois a gozar

Com a passar do tempo

A vida instalou-se no quarto

E o novo fez morada nos cabides

Aos quarenta anos

Wilma descobriu os dias vermelhos

As noites molhadas

A máquina de lavar para o lençol branco

E que pela manhã o desejo não tem cor

A querida Cida Pedrosa me fazendo chegar em lugares inimagináveis. Espero que a Wilma dela goste da minha.