sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Exposição é a palavra do século XXI. Para confirmar vide as modinhas do twitter e, recentemente, do formspring.me. O momento é de mostrar suas vontades, seus anseios, seu dia, seu humor, sua vida a pessoas que você nunca viu (e talvez nunca veja) rapidamente e em poucas palavras. Não hay mais tempo para nada além de si mesmo ultimamente.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Função Matemática para Relações Improváveis

Somos convergência. Porém uma convergência sem finalmentes: após a colisão nos aprofundaríamos; após o aprofundamento entraríamos em um estado de inércia. Uma inércia acompanhada e sem promessas de abalos. Seria nossa total destruição. Por isso, quando sentimos (pois a pura racionalidade dos fatos não nos cabe) que estamos nos aproximando da colisão rapidamente voltamos a ser retas paralelas (ou inertes solitários). Protelando assim o aprofundamento e dando apenas ao infinito o poder de possíveis novas colisões.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

"[...] É difícil ocultar fragmentos de vida desse jeito, mas as mulheres o fazem todos os dias. Quando a mulher se sente obrigada a viver às ocultas, ela está pondo para funcionar um modo de subsistência mínima. Ela oculta a vida para que "eles" não ouçam, quem quer que "eles" sejam na sua vida. Superficialmente, ela aparenta desinteresse e tranqüilidade mas, sempre que surge uma réstia de luz, sua alma esfaimada dá um salto, persegue a forma de vida mais próxima, alegra-se, dá coices, avança loucamente, dança como uma boba, fica exausta e depois tenta se esgueirar de volta à cela sombria antes que alguém perceba sua ausência. [...]"


Mulheres que correm com os lobos - Clarissa Pinkola Estes

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Flash Autobiográfico de Manuel Bandeira

Nome: Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho. Nasceu no Recife, na rua Joaquim Nabuco, em 1886. Solteiro, sem filhos. Altura: 1,68m, sem sapatos. Colarinho nº 40 (pescoço forte!). Sapatos nº 39. É míope, usa óculos e se sente feliz por isso. Tem ficado bastante surdo com a idade e se sente muito infeliz por isso. Já deixou duas vezes de fumar e não tem muito orgulho disso, porque acha, como Pedro Dantas (Prudente de Morais, neto), que é mais fácil deixar de fumar do que fumar pouco. Acorda às sete e meia, deita-se à meia noite. Agradece os livros que recebe e responde as cartas; danado da vida, mas responde. Gosta de criança e de animais, sobretudo de cachorro. Não gosta de abiu nem de caqui, nem de melancia. É contra os regimes totalitários, da direita ou da esquerda, contra a lei de inquilinato e contra a mão-única nas ruas Marquês de Abrantes e Senador Vergueiro. Suas orações: o Padre-Nosso e o verso de Verlaine "Seigneur, délivrez moi de l'orgueil toujours bête". Cada vez mais admira e estima o poeta Carlos Drummond de Andrade, e diz: "Quem não estiver de acordo, é favor não falar mais comigo". Poeta brasileiro de sua predileção: o citado. Romancistas brasileiros de sua predileção: José Linsdo Rego e Rachel de Queiroz. Contistas de sua predileção: Ribeiro Couto, Rodrigo M. F. de Andrade e Marques Rebelo. Seu cronista predileto: o velho Braga. Pintores brasileiros de sua predileção: Portinari, Pancetti e Cícero Dias da 1ª fase. Escultor brasileiro de sua predileção: Celso Antônio. Compositores brasileiros de sua predileção: não tem predileto. Pertence ao Partido Socialista Brasileiro. Não é requintado: gosta de jiló, cinema falado, rádio, mesmo com "friture", e de poetas de segunda ordem. Seu maior amigo: Rodrigo M. F. de Andrade. Detesta escrever para jornais e falar em público. Não tem nenhuma religião, mas a de sua simpatia é a católica. Se pudesse recomeçar a vida, gostaria de ser o que não pode: arquiteto. Arte de sua predileção: a música. Gosta de antigos e modernos, preferindo acima de todos Bach, Haydn e Mozart. Gosta de todo gênero de leitura, sem predileção. Tem medo de ter medo na hora de morrer. Escreve diretamente a máquina; quando se trata de poesia, rascunha a lápis as primeiras idéias dos poemas. Gosta mais de visitar do que ser visitado. Não tem secretário nem criado, e prepara o seu café da manhã; sabe fazer muito bem sorvete de café e doce de leite. Gosta da solidão. Com um poema publicado num jornal conseguiu que o prefeito Mendes de Morais mandasse calçar o pátio para onde dão as janelas do seu apartamento. Não se casou porque perdeu a vez. Ri com muita facilidade porque é dentuço. Homem de muitos amigos. Como Valéry, raramente faz versos, mas em matéria de poesia é o anti-Valéry: acredita e confia na inspiração, acredita na reabilitação do lugar-comum. Guarda pelo Recife a sua ternura de infância. Costuma veranear desde 1914 em Petrópolis. Não se consola de ter estado três dias em Paris, sem ver Paris. Publicou o seu primeiro livro aos 31 anos (A cinza das horas). Faz versos desde os dez anos de idade. Já tocou violão e sabe executar ao piano dois prelúdios de Chopin, um número do Carnaval de Schumann e uma peçazinha de Mac-Dowell. Coisas que mais detesta: fila de qualquer coisa, responder a enquêtes, dar opinião sobre os pardais novos, esperar retardatários, fazer plantão em guichê, viajar de trem etc. Gosta de: tirar retratos, ver figuras, ler suplementos literários, bestar etc. Suas reminiscências mais antigas remontam aos três anos de idade e estão contados no seu poema "Infância". Tem uma dúzia de poemas novos, que em futura edição de Poesias completas serão incorporados ao livro Opus 10. Aprecia os novos e novíssimos da poesia brasileira, ledos ou não. Gostaria de morrer de repente, mas em casa.

Publicado por João Codé nos seus "Arquivos Implacáveis", de O Cruzeiro, Rio de Janeiro.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

"É comum as pessoas ficarem empolgadas com o surgimento desta carta num jogo, pois, teoricamente, ela traz boas notícias. Porém, se trata de um Arcano absolutamente evolutivo e elevado, naturalmente carrega em si incumbências sérias e profundas ao mesmo tempo. Para quem se encontra representado por esta carta, o sofrimento não existe – apenas uma sensação de consciência (impressionante) que a faz realizar o que for preciso para crescer na vida, melhorar seu padrão, evoluir seu universo e também o seu dia a dia.

Mas lidar com esse período é um pouco mais complexo. Podemos analisar isso quando conhecemos alguém que está vivenciando essas características. A pessoa fica mais consciente, desapegada, em constante transformação – externa e interna – que gera a sensação (e o receio) do desconhecido em quem a observa. Normalmente, percebemos nesse estágio que os sentimentos existem, mas, se for preciso continuamos nossa vida perfeitamente sem termos que materializá-los. O mesmo ocorre com os pensamentos, que ficam mais claros e íntegros, provocando em nós o desejo (real) de crescermos e sabermos que nem todas as pessoas poderão nos acompanhar. Entendemos, também, que a matéria pode ser mudada, pode ser melhorada e aprendemos a nos desapegar de objetos, situações e (até) pessoas para que todos sejam mais felizes. Todo esse processo, naturalmente, acaba elevando nosso espírito e nos preparando para um futuro recomeço, mais leves e prontos para o que ainda precisamos aprender.

É por esse motivo que a carta traz tanta evolução e ao mesmo tempo complexidade – pois a integridade não mora na estagnação - e, lidar com esse processo nem sempre é agradável (principalmente para quem não está no mesmo estágio). É possível, obviamente, entender, mas nem por isso se torna fácil.
Por isso um conceito acaba virando fato: o processo de crescimento não dói em quem cresce, mas sim nas pessoas que estão vendo o crescimento do outro. A dor, para nós, se dá quando relutamos com a evolução, porém uma vez dentro dela, sofre quem vê do lado de fora. E o mais interessante é que a pessoa que evolui sabe disso, apesar de ter a consciência de que não pode (e nem deve) parar o seu momento para acalentar o medo da perda nas pessoas. Isso não as ajudaria verdadeiramente.

Viver esse degrau não é somente uma arte, mas um dos aprendizados mais belos. Porém, ao contrário do que se imagina, não ocorre magicamente de um dia pro outro… requer muita consciência, preparação e principalmente entendimento aliados à integridade. Essa combinação gera a totalidade do ser humano, que em breve, será também abandonada para possibilitar a vivência de um novo ciclo, um novo e inusitado (re) começo."


Por Kelma Mazziero sobre a carta "O Mundo", do Tarô.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

on

"Boy, you're gonna carry that weight
Carry that weight a long time
Boy, you're gonna carry that weight
Carry that weight a long time

I never give you my pillow
I only send you my invitations
And in the middle of the celebrations
I break down"