terça-feira, 11 de novembro de 2008

Durante alguns anos foi um exercício constante: engolia-os com a mesma gana que os expelia. Precisava, para ainda ter espaços e fome. E às vezes, sabia, a estadia de ambos em mim – o resto de um, o princípio do outro – não era saudável. Mas também sabia que se expulsasse algum de uma vez, intensificaria a dor. Preferia prolongar meu sofrimento como um masoquista com medo que chegue ao fim a sua tortura, dividindo-a em parcelas diárias. Assim, além de dor, teria a angústia e a ansiedade para semear o meu gozo.
Sendo sincera, meu maior interesse era digerir um por completo, sem pressa ou afobação. Não era possível, não dava tempo e logo em seguida, todos os meus poros estavam rejeitando o meu primeiro alimento. Continuava com fome – com um pouco de sede – e com tédio. Prossegui no meu exercício até o tédio ocupar todos os espaços: o da gana, o da fome, o da dor parcelada. E depois, quando nem o gozo existia mais, já nauseada, expeli o último. Intensificando-o ao máximo, para que não me restasse sobras.

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