Programação:
29/11 - Exibição no Mercado da Boa Vista - Projeto Rodada Cultural
02/12 - 10° Festival de Vídeo de PE - Teatro do Parque
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sábado, 29 de novembro de 2008
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Romance
Atraída apenas pela beleza do cartaz de divulgação, fui assistir Romance.
Li uma coisa ou outra sobre a narrativa - "o que Tristão & Isolda tem a ver com Guel Arraes?” – mas não cheguei a me aprofundar. Preferi me despir de idéias ou de expectativas. Até agora não sei se foi a melhor opção.
O filme começa com um belo texto sobre o amor romântico: "o amor correspondido infeliz". E quando eu quase acreditei que Guel Arraes tinha inserido um pouco realidade no seu mise en scène - afinal não se tratava de um filme de época nem de uma comédia, logo algo diferente estava por vir –, percebi um diretor extremamente apegado aos próprios costumes. É possível ver cenas idênticas a Lisbela e o prisioneiro e a O Auto da Compadecida. Falta ao diretor, reciclagem.
A comédia não necessariamente precisava ser banida, de forma alguma, essa é a peculiaridade de Guel – e identidade é o diferencial de um diretor, mesmo se reciclando ou inovando ele jamais a perderia. Porém se a idéia não é contar uma história cômica, e sim romântica e até mesmo trágica, por que os elementos da interpretação de cada personagem não foram construídos com mais cautela?
Em relação ao casal protagonista, palmas para Wagner Moura que tenta em vários momentos romper a barreira entre o texto e a interpretação – um obstáculo enorme, diga-se de passagem. Tanto que o Pedro é um personagem bastante tangível. Mesmo ele sendo tão repetitivo quanto os outros, podemos crer nas suas idéias, na sua existência. Infelizmente Letícia Sabatella não foi tão feliz nesse desafio. Ana, a protagonista do filme, terminou sendo uma personagem vaga e, óbvio, repetitiva. Diferente de Pedro, a existência dela não afeta quem está assistindo. Teoricamente ela é o sentimento que liga toda a história, quem cria todos os nós da trama. Na prática, Ana de tanto levantar a bandeira do amor e do sentimento, termina virando mais uma mocinha piegas, superficial.
Já outros atores como Marco Nanini e José Wilker salvam o filme. Eles conseguem quebrar o clima romântico (leia-se sacal) que a narrativa propõe e dão ao filme dinamismo e comédia – pontos onde a boa e velha direção Guel Arraneana ganha destaque.
O grande problema é de fato a narrativa. O texto é duro, didático, difícil de ser aplicado à vida real. Mais de duas horas de pura repetição: Amor, Tristão, Morte, Isolda, Sofrimento, Amor, Tristão, Morte, Isolda, Sofrimento, Amor...
O filme passa todo o tempo se explicando; o espectador não tem em momento algum o mérito de desvendar algo por si só.
Sem uma definição concreta, Romance fica entre a comédia romântica / pastelão e o drama, mas não consegue se apropriar de nenhum dos dois gêneros. Nem um tema como o amor, capaz de causar identificação quase imediata, consegue quebrar o gelo que paira entre o espectador e a projeção.
Li uma coisa ou outra sobre a narrativa - "o que Tristão & Isolda tem a ver com Guel Arraes?” – mas não cheguei a me aprofundar. Preferi me despir de idéias ou de expectativas. Até agora não sei se foi a melhor opção.
O filme começa com um belo texto sobre o amor romântico: "o amor correspondido infeliz". E quando eu quase acreditei que Guel Arraes tinha inserido um pouco realidade no seu mise en scène - afinal não se tratava de um filme de época nem de uma comédia, logo algo diferente estava por vir –, percebi um diretor extremamente apegado aos próprios costumes. É possível ver cenas idênticas a Lisbela e o prisioneiro e a O Auto da Compadecida. Falta ao diretor, reciclagem.
A comédia não necessariamente precisava ser banida, de forma alguma, essa é a peculiaridade de Guel – e identidade é o diferencial de um diretor, mesmo se reciclando ou inovando ele jamais a perderia. Porém se a idéia não é contar uma história cômica, e sim romântica e até mesmo trágica, por que os elementos da interpretação de cada personagem não foram construídos com mais cautela?
Em relação ao casal protagonista, palmas para Wagner Moura que tenta em vários momentos romper a barreira entre o texto e a interpretação – um obstáculo enorme, diga-se de passagem. Tanto que o Pedro é um personagem bastante tangível. Mesmo ele sendo tão repetitivo quanto os outros, podemos crer nas suas idéias, na sua existência. Infelizmente Letícia Sabatella não foi tão feliz nesse desafio. Ana, a protagonista do filme, terminou sendo uma personagem vaga e, óbvio, repetitiva. Diferente de Pedro, a existência dela não afeta quem está assistindo. Teoricamente ela é o sentimento que liga toda a história, quem cria todos os nós da trama. Na prática, Ana de tanto levantar a bandeira do amor e do sentimento, termina virando mais uma mocinha piegas, superficial.
Já outros atores como Marco Nanini e José Wilker salvam o filme. Eles conseguem quebrar o clima romântico (leia-se sacal) que a narrativa propõe e dão ao filme dinamismo e comédia – pontos onde a boa e velha direção Guel Arraneana ganha destaque.
O grande problema é de fato a narrativa. O texto é duro, didático, difícil de ser aplicado à vida real. Mais de duas horas de pura repetição: Amor, Tristão, Morte, Isolda, Sofrimento, Amor, Tristão, Morte, Isolda, Sofrimento, Amor...
O filme passa todo o tempo se explicando; o espectador não tem em momento algum o mérito de desvendar algo por si só.
Sem uma definição concreta, Romance fica entre a comédia romântica / pastelão e o drama, mas não consegue se apropriar de nenhum dos dois gêneros. Nem um tema como o amor, capaz de causar identificação quase imediata, consegue quebrar o gelo que paira entre o espectador e a projeção.
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Durante alguns anos foi um exercício constante: engolia-os com a mesma gana que os expelia. Precisava, para ainda ter espaços e fome. E às vezes, sabia, a estadia de ambos em mim – o resto de um, o princípio do outro – não era saudável. Mas também sabia que se expulsasse algum de uma vez, intensificaria a dor. Preferia prolongar meu sofrimento como um masoquista com medo que chegue ao fim a sua tortura, dividindo-a em parcelas diárias. Assim, além de dor, teria a angústia e a ansiedade para semear o meu gozo.
Sendo sincera, meu maior interesse era digerir um por completo, sem pressa ou afobação. Não era possível, não dava tempo e logo em seguida, todos os meus poros estavam rejeitando o meu primeiro alimento. Continuava com fome – com um pouco de sede – e com tédio. Prossegui no meu exercício até o tédio ocupar todos os espaços: o da gana, o da fome, o da dor parcelada. E depois, quando nem o gozo existia mais, já nauseada, expeli o último. Intensificando-o ao máximo, para que não me restasse sobras.
Sendo sincera, meu maior interesse era digerir um por completo, sem pressa ou afobação. Não era possível, não dava tempo e logo em seguida, todos os meus poros estavam rejeitando o meu primeiro alimento. Continuava com fome – com um pouco de sede – e com tédio. Prossegui no meu exercício até o tédio ocupar todos os espaços: o da gana, o da fome, o da dor parcelada. E depois, quando nem o gozo existia mais, já nauseada, expeli o último. Intensificando-o ao máximo, para que não me restasse sobras.
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