quarta-feira, 16 de julho de 2008

E eu procurava pela casa toda, meu amor, a casa toda e nada.
Aquela arrumação me enlouquecia, assim como o desinteresse dos moradores pela minha causa; minha causa, de tão simples, chegava a ser estúpida.
A minha necessidade gritava: uísque! - não, não, quem gritava isso era meu imediatismo. A necessidade mesmo, essa gritava outra coisa... Mais um grito que as cordas vocais não sentiram. Então - depois de subir e descer aquelas escadas todas em vão - me rendi ao título que eu mesma tinha me concedido:
mulher mais solitária do mundo.
Transitavam: todos de passagem.
Todos, sem nem me olhar, passavam.
Eram impiedosos! Não me fizeram merecedora nem de um encontrão casual de olhares... E eu nem tive tempo de compreender e aceitar. Se ao menos houvesse uísque eu aceitaria melhor. O copo sempre foi o mais fiel dos meus companheiros; eu me afogava nele para não ter que me afogar nos outros.
Eles ainda passavam.
Agora eu já não os quero mais - dizia, convicta, pra mim mesma. Mas assim que um transeunte se aproximava, a esperança, essa maldita que não aprendeu a se conter, voltava a pulsar com toda força.
Percebi todos, fisicamente. Porque nunca estavam a não ser fisicamente. É o mal dos desinteressados...
Não havia razões aparentes para aquilo, me soava mais como punição. Punição de quê? Por quê? Não nasci para ser punida, fiquem sabendo! Não nasci pra isso por não ter estrutura pra isso.
Será que eu fiz algo? Maldisse ou ironizei? Eram muitos, não caberiam todos na minha ruindade.
Ou será que eu ainda não percebi as dimensões montruosas da minha ruindade? Talvez já fosse gritante pros outros, mas não pra mim. Não ainda. É que, pra mim, o meu aglomerado não pode ser visto a olhos nus.
E eu ainda não tinha encontrado as lentes certas.
Mesmo assim, meu amor, tudo isso poderia melhorar com uma dose de uísque.

2 comentários:

  1. e o imediatismo pergunta se você quer gelo, mesmo sabendo que é melhor sem...

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  2. querida,
    muito bom esse recurso da repetição - o uísque, o uísque! - que angústia!
    acho que é o que Kundera trata como leitmotiv...
    se ao menos houvesse uísque!...
    resta-me a ressaca.
    beijos,
    eva

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