Aprendi com meu pai a observar as pessoas. Sempre ficávamos olhando e comentando sobre os costumes e as excentricidades das pessoas das mesas do lado. Com os anos fui tomando gosto pelo esporte e comecei a praticar sozinha: às vezes sentava em alguma mesa de bar, shopping ou restaurante e ficava olhando como as pessoas comiam, bebiam, andavam, como as mudanças climáticas afetavam seu cotidiano. Compreendi o conceito do franco-observador criado pelo meu pai, mas o desenvolvi a meu modo.
Nas minhas andanças como observadora comecei a notar melhor os relacionamentos nos meios sociais, ou melhor, o que é preciso fazer para ser aceito. Por exemplo, quando um indivíduo deixa transparecer uma mania estranha, é colocado no patamar de excêntrico, mas quando dois indivíduos fazem o mesmo, são descolados. Parece estúpido e pouco original dizer isso afinal esse é o processo natural da moda. Mas moda aqui não é apenas uma forma de se vestir ou se comportar - moda no sentido de ver o mundo. O exemplo mais forte (na verdade, o que realmente me trouxe a esse texto) pode-se encontrar em um show. A moda agora é assistir o show pela tela do celular, da câmera fotográfica ou sei lá o que já inventaram. As pessoas estão mais preocupadas em guardar os momentos para o futuro do que vivê-los no instante presente. Há um boom de registros feitos para serem divulgados posteriormente (fiquei me perguntando se não queremos na verdade divulgar o quanto somos felizes, afinal se você mostra é porque quer que alguém veja) em sites de relacionamento, no youtube, em blogs, fotologs... Fico pensando que o propósito de ir a um show se perde sendo a idéia inicial transcender a barreira da imagem, e apreciar o momento sem um artefato interligando o espectador e a banda. Mas ao chegar a um show a primeira atitude dessa nova sociedade cheia de facilidades tecnológicas é sacar um artefato de bolso e criar uma nova barreira. Talvez assistir pela tela é uma garantia não só de poder rememorar, mas de "não perder nenhum momento". Quanto mais temos, mais somos incitados a ter... Vivemos em uma sociedade ansiosa por "não perder nenhum momento", e eu fico me perguntando se não perdemos todos os outros que necessitam o mínimo de contemplação.
Tudo isso não passava de uma elucubração para ser levantada com pessoas distintas até assistir Flash Happy Society e finalmente encontrar a devida identificação. Exageros a parte, o curta-metragem de Guto Parente diz, sem nada dizer, como se engendra o comportamento dessa sociedade com tanto poder de consumo, mas quase nenhum discernimento (e disposição) para procurar entender o mundo ao seu redor. Durante um show, o cineasta filma vários momentos onde várias pessoas tiram fotos - o efeito de montagem acontece nos momentos que são disparados os flashs e gradualmente há um crescimento até um ápice, onde a concepção do filmes e as saídas estéticas entram em uma sintonia perfeita, dispensando excessos técnicos que poderiam disvirtuar o conceito do filme. São apenas oito minutos pensados, filmados e editados por um único homem. O que me faz crer que cinema é feito de idéias, sentimento do mundo e observação, não de aparatos.
Nas minhas andanças como observadora comecei a notar melhor os relacionamentos nos meios sociais, ou melhor, o que é preciso fazer para ser aceito. Por exemplo, quando um indivíduo deixa transparecer uma mania estranha, é colocado no patamar de excêntrico, mas quando dois indivíduos fazem o mesmo, são descolados. Parece estúpido e pouco original dizer isso afinal esse é o processo natural da moda. Mas moda aqui não é apenas uma forma de se vestir ou se comportar - moda no sentido de ver o mundo. O exemplo mais forte (na verdade, o que realmente me trouxe a esse texto) pode-se encontrar em um show. A moda agora é assistir o show pela tela do celular, da câmera fotográfica ou sei lá o que já inventaram. As pessoas estão mais preocupadas em guardar os momentos para o futuro do que vivê-los no instante presente. Há um boom de registros feitos para serem divulgados posteriormente (fiquei me perguntando se não queremos na verdade divulgar o quanto somos felizes, afinal se você mostra é porque quer que alguém veja) em sites de relacionamento, no youtube, em blogs, fotologs... Fico pensando que o propósito de ir a um show se perde sendo a idéia inicial transcender a barreira da imagem, e apreciar o momento sem um artefato interligando o espectador e a banda. Mas ao chegar a um show a primeira atitude dessa nova sociedade cheia de facilidades tecnológicas é sacar um artefato de bolso e criar uma nova barreira. Talvez assistir pela tela é uma garantia não só de poder rememorar, mas de "não perder nenhum momento". Quanto mais temos, mais somos incitados a ter... Vivemos em uma sociedade ansiosa por "não perder nenhum momento", e eu fico me perguntando se não perdemos todos os outros que necessitam o mínimo de contemplação.
Tudo isso não passava de uma elucubração para ser levantada com pessoas distintas até assistir Flash Happy Society e finalmente encontrar a devida identificação. Exageros a parte, o curta-metragem de Guto Parente diz, sem nada dizer, como se engendra o comportamento dessa sociedade com tanto poder de consumo, mas quase nenhum discernimento (e disposição) para procurar entender o mundo ao seu redor. Durante um show, o cineasta filma vários momentos onde várias pessoas tiram fotos - o efeito de montagem acontece nos momentos que são disparados os flashs e gradualmente há um crescimento até um ápice, onde a concepção do filmes e as saídas estéticas entram em uma sintonia perfeita, dispensando excessos técnicos que poderiam disvirtuar o conceito do filme. São apenas oito minutos pensados, filmados e editados por um único homem. O que me faz crer que cinema é feito de idéias, sentimento do mundo e observação, não de aparatos.
Eva
ResponderExcluirgostei desse texto;
bem observado.
Lourdes Alves
Chego a pensar que algumas pessoas priorizam tanto os aparatos porque se parecem um pouco com eles. Funcionam sem sentir, existem sem viver.
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