quarta-feira, 1 de abril de 2009

I

Era uma mulher. Dentro de tantas culturas esse fato poderia vir repleto de significados. Aqui, não. Era uma mulher, só. Sem qualidades, defeitos, vontades. Feições incrivelmente inexpressivas: não era possível atravessar seus olhos e descobrir mundos. Antes mesmo de chegar nos olhos, éramos parados pelos pés-de-galinha, olheiras, pelas sobrancelhas ralas. Nunca ninguém transpôs essas fronteiras.

Era uma mulher. Do tipo que mesmo fisicamente presente, nunca é vista.
Transparece devagar, mostrando primeiro uma finíssima camada que vai tomando forma, tomando forma...
Transparece e continua amorfa.

Era uma mulher idêntica a todas as outras e completamente diferente: sentia-se paradoxal.
Pena que não sabia o significado de paradoxal.

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