domingo, 31 de agosto de 2008


Júlia Maria que não gosta de ser chamada de Maria. A verdade é que ela não se chama Maria. Como virginiana, é adepta das regras - logo, todas as vezes que grito "Júlia Maria!", sou severamente censurada.
Tem sete. Nem mais nem menos. Sete!
Comentei certa vez, com a inconveniência que me é peculiar: "nossa, sete! já tá velha". Ela, muito bem educada, retrucou: "velho é Victor que já tem oito. Eu só tenho sete." - Victor, O primogênito dos bisnetos -, me recolhi. Não ouso me trocar com a infante, tenho medo de ser passada para trás no meu primeiro deslize. Pequena especialista na arte dos foras com elegãncia, do desprezo respeitoso.

Campeã no street fighter. Já me ganhou jogando com os pés. Não só uma partida, ganhou algumas várias.
Como disse, a infante sabe o que fazer e como fazer.
Nunca, jamais, em caso algum, come verduras - a essa altura já é uma questão de honra. O prato é devidamente construído em tons de amarelo - meticulosa, extremamente meticulosa. Já tentaram colorir seus pratos; tentativa vã. Talvez como vingança, um dia, num almoço qualquer, montou seu prato num surto master de ousadia: feijão com amedoim. Comeu. Segundo relatos, não só comeu, deliciou-se; e o fez como um prazer de um chef que acaba de preparar sua obra de arte culinária, para o espanto dos presentes.

Hoje, algumas janelinhas, franja espetando os olhos, barroquinhas nas bochechas. Risada engraçada - joga o corpo e a cabeça pra trás, ergue uma das mãos, e depois de se inclinar um pouco para o lado, volta à posição incial. Toda pequena, toda redonda, toda sagaz - toda e completamente radiante.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

"[...] - Escuta. Eu estava habituada somente a transcender. Esperança pra mim era adiamento. Eu nunca havia deixado minha alma livre, e me havia organizado depressa em pessoa porque é arriscado demais perder-se a forma. Mas vejo agora o que na verdade me acontecia: eu tinha tão pouca fé que havia inventado apenas o futuro, eu acreditava tão pouco no que existe que adiava a atualidade para uma promessa e para um futuro.
Mas descubro que não é sequer necessário ter esperança. [...]"




A paixão segundo G.H. - Clarice Lispector

domingo, 17 de agosto de 2008

inércia

Não se vive o velho, não se vive o novo. O passado e o futuro passeiam ao redor da cabeça, mas nem um nem outro encontram terra firme para pousar. Arrodeiam, arrodeiam, arrodeiam... só há oceano, inundação, afogamento.


- morreu de quê?
- afogou-se em si.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

domingo, 10 de agosto de 2008

Segundo Domingo de Agosto, a metade paterna se reuni.
Não mais pela boa companhia, não mais pela diversão e as gracinhas (um tanto pesadas) dos entes.
Tudo obra do carinho que alguns ainda nutrem - mais pela tradição do quê pela família em si.
Primos, tios, pais, sobrinhos, agregados, primos de segundo grau, bisnetos - esses sim são felizes!
E a minha persona - prima, sobrinha, filha, quase agregada, prima de segundo grau e bábá - sem encontrar um local para pousar os olhos. Onde estaria segura e ninguém ousasse alguma abordagem direta.
Por instinto de seguraça, foquei-os.





Na cozinha lotada ouviu-se apenas o clic.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

plaisir dans l'angoisse.
contradictoire, très contradictoire...

qu'est-ce tu ne oublié pas?
je ne sais pas.

et c'est ça ma rage.