quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Aqui, sob esta pedra, onde o orvalho roreja,
Repousa, embalsamado em óleos vegetais,
O alvo corpo de quem, como uma ave que adeja,
Dançava descuidosa, e hoje não dança mais…

Quem não a viu é bem provável que não veja
Outro conjunto igual de partes naturais.
Os véus tinham-lhe ciúme. Outras, tinham-lhe inveja.
E ao fitá-la os varões tinham pasmos sensuais.


A morte a surpreendeu um dia que sonhava.
Ao pôr do sol, desceu entre sombras fiéis
À terra, sobre a qual tão de leve pesava…

Eram as suas mãos mais lindas sem anéis…
Tinha os olhos azuis… Era loura e dançava…
Seu destino foi curto e bom… — Não a choreis.





Inscrição - Manuel Bandeira

domingo, 9 de dezembro de 2012

Para não esquecer

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela, 
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela. 
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala, 
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança. 
Amar é pensar. 
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela. 
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela. 
Tenho uma grande distração animada. 
Quando desejo encontrá-la 
Quase que prefiro não a encontrar, 
Para não ter que a deixar depois. 
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. 
Quero só Pensar nela. 
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar. 
Alberto Caeiro